Segundo Bogdan e Biklen (1994), a investigação qualitativa surgiu no final do século XIX e inicio do século XX, atingindo o seu apogeu, nas décadas de 60 e 70 através do surgimento de novos estudos e sua divulgação. A investigação qualitativa tem na sua essência, segundo Bogdan e Biklen (1994), cinco características: (1) a fonte directa dos dados é o ambiente natural, enquanto que o investigador é o principal agente na recolha desses mesmos dados; (2) os dados que o investigador recolhe são principalmente de carácter descritivo; (3) os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo em si, do que propriamente pelos resultados; (4) a análise dos dados é feita de forma indutiva e (5) o investigador interessa-se acima de tudo, de tentar compreender o significado, que os participantes dão às suas experiências.
Enquanto a investigação quantitativa utiliza dados de natureza numérica que lhe permitem provar relações entre variáveis, a investigação qualitativa utiliza principalmente metodologias que possam criar dados descritivos que lhe permitirá ver o modo de pensar dos participantes numa investigação.
Para Merriam (1988), nas metodologias qualitativas, os intervenientes da investigação não são reduzidos a variáveis isoladas, mas vistos como parte de um todo no seu contexto natural. É de salientar que, ao reduzir pessoas a dados estatísticos, há determinadas características do comportamento humano que são ignoradas. A mesma autora refere que, para se conhecer melhor os seres humanos, a nível do seu pensamento, deverá utilizar-se para esse fim dados descritivos, derivados dos registos e anotações pessoais de comportamentos observados.
Os dados de natureza qualitativa são obtidos num contexto natural ao contrário dos dados de cariz quantitativo, que são elaborados a partir de situações organizadas. Bogdan e Taylor (1986) referem que, nos métodos qualitativos, o investigador deve estar completamente envolvido no campo de acção dos investigados, uma vez que, na sua essência, este método de investigação baseia-se principalmente em conversar, ouvir e permitir a expressão livre dos participantes.
A investigação qualitativa por permitir a subjectividade do investigador na procura do conhecimento, implica que exista uma maior diversificação nos procedimentos metodológicos utilizados na investigação.
O estudo de caso qualitativo caracteriza-se pelo seu carácter descritivo, indutivo, particular e a sua natureza heurística pode levar à compreensão do próprio estudo (Merriam, 1988). Segundo a mesma autora, um estudo de caso é um estudo sobre um fenómeno específico tal como um programa, um acontecimento, uma pessoa, um processo, uma instituição ou um grupo social. Neste tipo de investigação, nomeadamente, o estudo de caso é muito utilizado, quando não se consegue controlar os acontecimentos e, portanto, não é de todo possível manipular as causas do comportamento dos participantes (Yin, 1994). Segundo o mesmo autor, um estudo de caso é uma investigação, que se baseia principalmente no trabalho de campo, estudando uma pessoa, um programa ou uma instituição na sua realidade, utilizando para isso, entrevistas, observações, documentos, questionários e artefactos.
A questão de quando se deve utilizar ou não, este tipo de metodologia é respondida por Ponte (1991) que refere que os estudos de caso não se usam quando se quer conhecer propriedades gerais de toda uma população, para isso utilizam-se outros tipos de metodologias, usam-se sim, para compreender melhor a particularidade de uma dada situação ou um fenómeno em estudo.
Como principais vantagens deste tipo de investigação, temos o método ideal para caracterizar e aprender acerca de um indivíduo em particular. Outra vantagem muito importante nos estudos de caso é o facto de o investigador poder, a qualquer momento da investigação, alterar os métodos da recolha de dados e estruturar novas questões de investigação.
Segundo Tesch (1990), a análise de dados de um estudo de caso pode ser de três tipos: (a) interpretativa que visa analisar ao pormenor todos os dados recolhidos com a finalidade de organizá-los e classificá-los em categorias, que possam explorar e explicar o fenómeno em estudo; (b) estrutural, que analisa dados com a finalidade de se encontrar padrões que possam clarificar e/ou explicar a situação em estudo; e (c) reflexiva que visa, na sua essência, interpretar ou avaliar o fenómeno a ser estudado, quase sempre por julgamento ou intuição do investigador.
Para Yin (1994) a qualidade de um estudo de caso está relacionada com critérios de validade e fiabilidade. A “Validade de Construto”, verifica até que ponto uma medida utilizada num estudo de caso é adequada aos conceitos a serem estudados. A “Validade Interna” avalia em que medida o investigador demonstrou a relação causal entre dois fenómenos observados. A “Validade Externa” mostra até que ponto as conclusões de um estudo de caso podem ser generalizáveis a outras investigações de casos semelhantes. A fiabilidade de um estudo de caso mostra em que medida outros investigadores chegariam a resultados idênticos, utilizando as mesmas metodologias na mesma investigação.
Ainda na mesma linha de pensamento, Lincoln e Guba (citados por Vale, 2004) propõem uma alteração de terminologia, no que diz respeito aos critérios de qualidade numa investigação. Os mesmos autores utilizam os termos credibilidade para o critério da autenticidade de um estudo, a transferibilidade para a sua aplicabilidade, a fidedignidade para a sua consistência e por último a confirmabilidade para o critério da neutralidade de um estudo.
No que diz respeito à “generalização” das conclusões e resultados de um estudo de caso, é necessário salientar que esta metodologia de investigação não tem o propósito de generalizar os resultados obtidos, mas sim de conhecer profundamente casos concretos e particulares (Merriam, 1988 e Yin, 1994).
Bibliografia:
Bogdan R., Biklen S., (1994). Investigação Qualitativa em Educação: Uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora.