terça-feira, 29 de abril de 2008

Vantagens e Desvantagens da utilização de um inquérito por questionário


Como todos os instrumentos de recolha de informação, o questionário apresenta uma série de vantagens e inconvenientes na sua utilização que é necessário ter em conta. Apresentam-se de seguida algumas delas.

- Desvantagens -
v Processo de elaboração e testagem de itens muito moroso;
v Elevada taxa de não – respostas;
v Não é aplicável a toda a população;
v Nem sempre é fácil a interpretação das respostas;
v É difícil saber se os inquiridos estão a responder o que sentem ou se respondem de acordo com o que pensam que são as nossas expectativas;
v Não é possível ajudar o inquirido em questões mal formuladas.

- Vantagens -
v Permitem recolher informação de um elevado número de respondentes ao mesmo tempo;
v Permitem uma rápida recolha de informação;
v Menor custo:
v Maior sistematização dos resultados fornecidos;
v Maior facilidade de análise.

Etapas da Construção do Questionário


Em investigação educacional, o processo de elaboração e aplicação de um questionário passa por uma série de fases e tem de respeitar um conjunto complexo de procedimentos. A aplicação de um questionário é classificada como uma técnica em que existe uma interacção indirecta com quem responde ao mesmo, daí que seja necessário muito cuidado na elaboração desses questionários.
Assim, as perguntas devem ser:

  • Claras (devem ser compreendidas do mesmo modo por todos os inquiridos);
  • Curtas;
  • Limitadas a um só problema;
  • Directas (evitar fazer perguntas pela negativa);
  • Simples (evitar perguntas duplas);

Para além dos aspectos referidos, acrescentaríamos a necessidade de os inquéritos possuírem instruções claras para quem tem que responder sentir que compreendeu evitando a ambiguidade, assim, devem também possuir questões que não sugiram interpretações que levem ao erro na resposta e que sejam inépcias. Os inquéritos por questionário devem ainda ser acompanhados por uma introdução, em especial se não forem distribuídos por quem os elaborou. Esta introdução deve clarificar os propósitos do questionário e explicitando o tratamento que será dado aos dados recolhidos e garantir a total confidencialidade dos dados que o inquirido colocar no preenchimento do questionário.
Segundo Carmo & Ferreira (1998:137), duas questões devem ser tidas em consideração na elaboração dos questionários, são elas: “o cuidado a ser posto na formulação das perguntas e a forma mediatizada de contactar com os inquiridos”.
Normalmente, os questionários integram vários tipos de perguntas:

  • Perguntas de identificação;
  • Perguntas de informação;
  • Perguntas de descanso;
  • Perguntas de controlo.

Uma questão também importante, é a decisão a tomar quanto à ordenação dos itens do questionário. As primeiras questões podem condicionar as respostas seguintes. Num estudo apresentado por Shuman, Presser e Ludwig (1981), observou-se que as respostas ao questionário dependiam da ordem em que as questões eram colocadas.
Um bom procedimento a ter em conta é começar com questões interessantes que captem a atenção dos respondentes. Assim:

  • Os dados demográficos podem (devem) ser colocados no fim;

  • As questões devem ser colocadas em funil (do geral para o específico);

  • Nas questões sobre raças: usar sempre a mesma ordem em todos os subgrupos da amostra contrabalançando assim o efeito da ordem; recorrer a diferentes ordenações das questões, conforme os subgrupos da amostra, assim neutralizando o efeito da ordem;

  • As questões em filtro, devem ser usadas com cuidado, isto é a questão geral não deve condicionar as mais específicas;

  • As questões inversas, devem ser intercaladas com as questões directas.

Contudo, as questões usadas nos questionários podem ter duas formas: abertas e fechadas. As questões abertas obrigam ao agrupamento por categorias, enquanto nas questões fechadas pode-se obter apenas um tipo de resposta e que pode ter dois significados: a pergunta não traz informação relevante e deve ser excluída, ou a população que respondeu é demasiado homogénea. Nas questões mal colocadas não se consegue categorizar, o que nos obriga à reformulação destas.
As perguntas fechadas são úteis em perguntas que do ponto de vista social são delicadas, como por exemplo, a orientação sexual. Segundo Ghiglione & Matalon (2001), estas questões podem ser construídas de 5 formas:

  • Resposta mais adequada;

  • Várias hipóteses de resposta para escolher, sem limite;

  • Várias hipóteses de resposta para escolher, com limite;

  • Ordenar as diferentes respostas;

  • Ordenar as diferentes respostas, mas com limite.

A elaboração e aplicação de um questionário passam por três fases, segundo Carmo & Ferreira (1998:140-147):

  • Fase preliminar (antes);

  • Decorrer (durante);

  • Fase subsequente (depois).

Fase preliminar

Construção das perguntas (estas devem ser precedidas de entrevistas, de modo a obter informação suficiente para a construção das questões):

  • Em número adequado – estas devem ser em número adequado para responder à problemática em investigação, bem como às características da amostra e do tempo que os participantes terão disponível para responder (Ex.: os inquéritos de rua devem ser curtos);
  • Devem ser fechadas tanto quanto possível, contudo no início devemos ter questões abertas para que os participantes sintam que a sua opinião conta e de forma a suscitar interesse;
  • Compreensíveis para os respondentes;
  • Não ambíguas;
  • Evitar indiscrições gratuitas;
  • Confirmarem-se (através de perguntas de controlo);
  • Abrangerem todos os pontos a questionar;
  • Serem pertinentes relativamente à experiência do inquirido;
  • Recorrer a escalas de atitudes (permitem ao investigador medir atitudes e opiniões dos inquiridos).

Entre as escalas de atitude destacam-se as chamadas escalas de tipo Thurstone (Sim/Não) e as de Likert (1-9). A escala tipo Likert baseia-se nos mesmos princípios que a de Thurstone, mas tem a vantagem de ser mais fácil na sua construção.
Apresentação do questionário (este aspecto é muito importante pois vai ser a imagem da investigação) carece de especial atenção nos seguintes aspectos:

  • Apresentação do investigador;

  • Apresentação do tema a investigar;

  • Instruções claras e precisas;

  • Disposição gráfica;

  • Número de folhas (muitas folhas vai suscitar uma reacção negativa ao inquirido).

Fase do decorrer

Nesta fase deve-se:

  • Aplicar questionários teste para avaliar a sua clareza e rigor, a cerca de 50 pessoas (pré teste);

  • Reformular (se tal se verificar necessário);

  • Aplicar à amostra escolhida.

Fase subsequente

Na fase subsequente (depois) deve-se:

  • Efectuar uma primeira leitura a fim de verificar a fiabilidade das respostas e codificar as respostas a questões abertas (se existirem);

  • Aplicação do questionário;

  • Análise de dados.

Também a análise, ou tratamento dos resultados deve ser , válida e fiável. Dos métodos destacamos os seguintes:
Análise de conteúdo;
Cálculo de índices;
Representação gráfica;
Métodos estatísticos (paramétricos e não paramétricos).


Bibliografia:

  • Bell, Judith (2004) Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva

  • Carmo, Hermano; Ferreira, Manuela Malheiro (1998) Metodologia da Investigação – Guia para a Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta

  • Ghiglione, R. & Matalon, B. (2001). O inquérito: teoria e prática. Oeiras: Celta Editora

  • Veiga, F. H. (1996) Recolha de dados: O Questionário. Lisboa: Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Sitografia:
Guide to the Design of Questionnaires
http://www.leeds.ac.uk/iss/documentation/top/top2/top2.html

Investigação por Questionário - Ideias e conceitos


A recolha de dados é um processo organizado de procura de informações, em fontes adequadas e válidas, que tem como objectivo a compreensão de uma dada situação.
Existem algumas questões que devem preceder qualquer recolha de dados:

  • Qual o objectivo?
  • Qual a informação a recolher?
  • Tem utilidade? Tem qualidade? É suficiente?
  • Que fazer com ela?

A recolha de dados ou de informações pode ser feita utilizando vários métodos, com destaque para os seguintes: análise de documentos; inquérito por questionário; observação e entrevista (Veiga, 1996).
Neste caso em particular, interessa-nos abordar o questionário enquanto instrumento de investigação e de recolha de dados, que de acordo com Muñoz (2003) é um instrumento versátil que permite a sua utilização como um instrumento de investigação e de avaliação de pessoas, processos e programas de formação. É uma técnica de avaliação que pode abarcar aspectos qualitativos e quantitativos, sendo muito usada na investigação quantitativa e nos estudos de opinião.
O questionário é extremamente útil quando um investigador pretende recolher informação sobre um determinado tema, constituindo uma parte fundamental de uma boa investigação. Para isso é necessário assegurar que as perguntas são as adequadas e que os dados recolhidos permitem responder à pergunta de partida. Tuckman (2002:308) afirma que “os questionários e as entrevistas são processos para adquirir dados acerca das pessoas, sobretudo interrogando-as e não observando-as, ou recolhendo amostras do seu comportamento (…)” (cit. Conceição Brito, 2006).
Não existe um método-padrão para se formular um questionário. Porém, existem algumas recomendações, bem como factores a ter em conta relativamente a essa importante tarefa num processo de pesquisa.

Um questionário é uma lista organizada de perguntas que visa obter informações de natureza muito diversa tais como interesses, motivações, atitudes ou opiniões das pessoas.
Para Tuckman (2002:15-17) “a investigação por inquérito é um tipo específico de investigação que aparece frequentemente no campo da educação” mas adianta que “a interpretação dessas respostas pode não ser a mais correcta, dado não existir um termo de comparação”. O autor é de opinião de que o inquérito é “uma técnica potencialmente muito útil em educação (…) [e] tem um valor inegável na recolha de dados”, o que é reiterado por Bell (1997:100) quando nos diz que “os inquéritos constituem uma forma rápida e relativamente barata de recolher um determinado tipo de informação (…)”(cit. Conceição Brito, 2006).


Referências Bibliográficas:

  • Bell, Judith (2004) Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva

  • Carmo, Hermano; Ferreira, Manuela Malheiro (1998) Metodologia da Investigação – Guia para a Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta

  • Ghiglione, R. & Matalon, B. (2001). O inquérito: teoria e prática. Oeiras: Celta Editora

  • Veiga, F. H. (1996) Recolha de dados: O Questionário. Lisboa: Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Métodos Qualitativos de Investigação vs. Métodos Quantitativos de Investigação

Nos métodos qualitativos de investigação regista-se uma predominância de categorizações, de análises mais dissertativas, o maior recurso ao raciocínio indutivos e de menor recurso a cálculos e estatísticos. Entre os diversos tipos de métodos qualitativos utilizados nas várias disciplinas, encontra-se o estudo fenomenológico (procura descobrir a essência dos fenómenos, a sua natureza intrínseca e o sentido que os humanos lhe atribuem), a teoria fundamentada (é, sobretudo, um método de investigação indutiva que tem por objectivo gerar uma teoria a partir dos dados recolhidos, mais do que analisar esses mesmos dados em função de uma teoria já existente), o estudo etnográfico (procura descrever um sistema cultural do ponto de vista das pessoas que partilham a mesma cultura), a investigação-acção, a investigação histórica, entre outros.
Nos métodos quantitativos de investigação, verifica-se a predominância do recurso aos modelos matemáticos e estatísticos, onde as variáveis de estudo são perfeitamente definidas e dominam os cálculos matemáticos e estatísticos.

Qual é o objectivo de um projecto de investigação?

O objectivo de qualquer projecto de investigação é o de produzir novo conhecimento, contribuir para a descoberta de respostas a problemas específicos no domínio da disciplina em que se insere. Ora, se no âmbito das ciências exactas (como a matemática, a física ou a química) ou mesmo no âmbito das ciências médicas, uma descoberta é imediatamente perceptível como novo conhecimento ( p.ex. Teoria da Relatividade, a cura de para uma doença específica, etc), no âmbito das ciências sociais tais “descobertas” não têm de ser inventos revolucionários. Podem ser descobertas modestas para “compreender melhor os significados de um acontecimento ou de uma conduta, a fazer inteligentemente o ponto de situação, a captar com maior perspicácia as lógicas de funcionamento de uma organização, a reflectir acertadamente sobre as implicações de uma decisão política (…) mas raramente se trata de investigações que contribuam para fazer progredir os quadros conceptuais das ciências sociais, ou dos seus modelos de análise ou os seus dispositivos metodológicos.”(3) Em todo o caso, o investigador deve elaborar um trabalho que, em teoria, os outros estudiosos e agentes do ramo não deveriam ignorar, porque diz algo de novo, isto é, acrescenta conhecimento novo naquele domínio.

Referências Bibliográficas:


(3) Quivy, Raymond; Campenhoudt, Luc Van – Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa, Gradiva, 19-20, 50 (1998) 282p.

O que é um projecto de investigação?

Todas as áreas do conhecimento humano têm como propósito essencial o aumento do património de conhecimentos específicos aos temas e assuntos que são objecto do seu estudo e análise. Esse aumento do saber é obtido a partir da resolução de problemas e da obtenção de respostas às incógnitas com que cada disciplina se confronta.
Portanto, um dos meios para a produção de conhecimentos é através da investigação. A investigação é ”um processo sistemático e rigoroso e leva à aquisição de novos conhecimentos (…) quer seja nos domínios das ciências da saúde, das ciências sociais ou das ciências humanas”.(1) O rigor e a sistematização são características centrais da investigação pois “o rigor, do qual depende a exactidão científica tem em parte a capacidade de assegurar uma percepção fiável e correcta da realidade (Gauthier, 1992). Quanto à sistematização, ela resulta do método, isto é, de uma forma organizada e ordenada de alcançar um objectivo.”(1)
Um projecto de investigação é um aprofundamento prático, teórico e/ou técnico, obtido através de uma investigação rigorosa e sistemática de um, ou vários, factos, fenómenos, acontecimentos ou realidades, realizado com vista à descoberta e/ou aumento do património de conhecimentos em determinada área do saber.
Os projectos de investigação podem ter como objectivo a produção de conhecimento totalmente novo (p.ex. a descoberta de um tipo de tratamento para uma doença até então incurável) ou podem simplesmente reunir, analisar criticamente e discutir conhecimentos e informações já publicadas sendo, por isso, considerados resumos de assuntos ou compilações.
Mas, nem todos os autores consideram o trabalho de compilação e resumo do conhecimento já existente como um trabalho de investigação. Umberto Eco (2005) defende que um trabalho de compilação não pode ser considerado um trabalho de investigação pois “o estudante demonstra simplesmente ter examinado criticamente a maior parte da «literatura» existente (ou seja, os trabalhos publicados sobre o assunto) e ter sido capaz de expô-la de modo claro, procurando relacionar os vários pontos de vista, oferecendo assim uma inteligente panorâmica, provavelmente útil do ponto de vista informativo mesmo para um especialista do ramo (…)”(2). Opinião contrária têm outros autores, considerando que apesar de não serem trabalhos originais, os resumos de assuntos e monografias exigem dos seus autores a aplicação dos mesmos métodos e a mesma dedicação que os utilizados em trabalhos originais. É esta a posição de Quivy (1998), Cervo e Bervian (1996)
No meio académico, a elaboração de projectos de investigação é muito requerida, seja para a obtenção de determinados graus académicos, seja como forma de avaliação em disciplinas. Estes trabalhos de investigação em função da sua natureza e valor são denominados de Relatório, Monografia, Dissertação e Tese.

Referências Bibliográficas:
(1) FORTIM, Marie-Fabienne - O Processo de Investigação: da Concepção à Realização. Loures : Lusociência, Coop., 17-18, 62 (1996) 388p.

(2) Eco, Humberto – Como se Faz uma Tese em Ciências Humanas, Lisboa, Editorial Presença, 29, 33 (2005) 238p.